Sweet Jane está sentada no
degrau defronte ao prédio onde mora, com o cigarro de palha aceso no canto dos
lábios. Traga observando a ponta queimar,
diminuir
enquanto o alívio invade os pulmões, a fumaça branca sai pelos lábios e nariz.
Ela encosta a cabeça entre as mãos e os cotovelos nos joelhos, fita a rua e o passar dos carros, termina de tragar o cigarro e levanta.
Jane anda pela calçada, ouvindo o som dos próprios sapatos em contato com cimento.
As mesmas calçadas
do mesmo caminho
todos os dias.
Dentre os pensamentos, os mesmos, sobre a rotina indiferente de um mesmo caminhar, de inesgotáveis passos cansados todos os dias com o mesmo fim.
Qual o fim?
O fim de um dia após o outro, um mês após o outro, um ano após
o outro
uma vida após a outra dentro de uma bolha imensa de situações
irresolutas.
Com o andar cansado, ela sente o suor escorrer pelo rosto,
limpa-o com a palma da mão e continua sem perder o ritmo exausto.
Pessoas passam em pares por Jane,
pares solitários
ou assombrados por uma solidão inconveniente, irreal.
Sweet Jane sente o celular vibrar no bolso de trás dos jeans,
ela atende:
– Sim?
– Jane?
A voz masculina do outro lado da linha faz os lábios dela
secarem, o coração parar de forma metafórica, porém desejando que ele parasse
de forma literal. As pernas travam, ela perde o foco,
o fio,
o fim.
Tão desnorteada que os poucos segundos parecem horas em que
ela está ali, sem reação, incapaz de diferenciar a buzina de um carro do
torpor mental que se encontra.
– Moça?
A voz não vem do telefone.
– Ô moça?
A voz continua não vindo do telefone.
Jane consegue se livrar do estupor, ainda mantém o celular
pressionado a orelha, mas agora conseguindo distinguir o carro estacionado na
sua frente.
– Moça, você 'tá bem?
O rapaz ao volante tem o rosto ossudo, as sobrancelhas muito
pretas na testa franzida, mas isso não esconde a gentileza carregada nos olhos
grandes.
Todo cotidiano, sempre a mesma ligação, sempre a mesma reação,
mas nunca o carro estacionado ou aquele rapaz.
Jane desliga o celular.
A bolha imensa de situações irresolutas é estourada por um
sorriso de canto:
– Aceita uma carona?
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